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Economia Solidária é pauta de conferência na Jornada de Agroecologia

Discussão trouxe questões de estratégia política e econômica a experiências práticas da contraposição da lógica de mercado

Por Murilo Lemos Bernardon

A oposição ao capitalismo e os caminhos para uma economia popular foram temas de debate na 20ª Jornada de Agroecologia, como parte da conferência “Cooperação para a construção da Economia Solidária, Popular e geração de renda”. A mesa, realizada no dia 24, foi composta por diversas organizações, como o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Rede Paranaense de Economia Solidária Campo-Cidade (Rede Mandala).

Integrante do MST, Armelindo Rosa da Maia, conhecida como Beá, abriu a conferência — mediada por Angela Maria de Azevedo Padilha, do Cefuria — afirmando que a Jornada de Agroecologia tem dois eixos principais: a denúncia do agronegócio, dos malefícios e perigos que ele levanta, que aparecem nos seminários e conferências, e apresentação da proposta da agroecologia como alternativa a isso. Para Beá, o projeto anunciado na Jornada é muito forte, porque “não há quem em sã consciência seja contra a agroecologia, a alimentação saudável e o respeito à natureza”, explica.

“Eu estou entendendo que a nossa estratégia política é construir um projeto de sociedade que seja bom para todo mundo, para o campo, para a cidade e para os trabalhadores de maneira geral. Nós podemos chamar isso de Revolução Brasileira, de ‘transformação radical da sociedade’, esse é o rumo que a gente está construindo”, afirma.

Beá também elencou uma série de pontos chave para a estratégia do avanço da agroecologia e apresentou a experiência da  Finapop – Financiamento Popular para Alimentos Saudáveis. A Finapop é uma iniciativa de investimentos e captação de recursos para financiar projetos da agricultura familiar. Dessa forma, os trabalhadores podem investir ou acessar crédito em uma iniciativa popular, sem dependência de bancos privados.

Trabalho e resistência

São as iniciativas de cooperação que levam à soberania popular, segundo a educadora popular do Cefuria, Vanda Assis. Para ela, há um elemento central que une essa luta por uma outra economia. “O elemento que nos une é o trabalho, e nós construímos geração de renda pelo trabalho, o trabalho é comum à toda humanidade, ele é próprio do ser humano, é essencial”, descreve.

Foto: Joka Madruga

Vanda faz um retrospecto da passagem de estruturação da sociedade por meio do trabalho, e de vários estágios históricos de exploração da força produtiva. Também narrou a trajetória da Economia Solidária no Brasil, conduzida por avanços dos trabalhadores. Ela ressaltou a importância do fomento público à alternativas populares de organização e da construção de uma unidade das frentes espalhadas de ponta a ponta pelo Brasil. 

“O trabalho nunca foi para que a gente morresse, o trabalho é para que a gente viva, é para nosso desenvolvimento, é para nossa evolução, e hoje no capitalismo o trabalho é morte”, explica.

Alice Audibert e Sandra Rodrigues, integrantes da equipe que produziu o Atlas da Agroecologia, ferramenta desenvolvida pelo MST no Rio Grande do Sul e pela Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre(Cootap) que  cataloga experiências agroecológicas, relataram experiências de solidariedade entre campo e cidade. O estabelecimento de parcerias de comercialização urbana dos produtos rurais contribuíram para o avanço da produção agroecológica e da resistência dos assentamentos da região.

Segundo Sandra, os grupos gestores de produção, cooperativas e o MST, com o apoio da sociedade, tem dado condições para que os agricultores e agricultoras agroecológicas enfrentem a contaminação por agrotóxicos – na região metropolitana de Porto Alegre, por exemplo os Assentamento Lagoa do Junco, no Município de Tapes,  e o Assentamento Santa Rita de Cássia II, no município de Nova Santa Rita, foram atingido pela deriva da pulverização aérea de agrotóxicos.

“O que seria de nós se não fossem esses grupos gestores? Cada família se junta e nós vamos à luta coletivamente, cada uma produzindo no seu lote”, contou Sandra.

Foto: Joka Madruga

O trabalho em rede também acontece na Libersol, a Rede de Saúde Mental e Economia Solidária de Curitiba e Região Metropolitana. Geison Bezerra, coordenador da Libersol, apresentou ao público a criação de feiras de Economia Solidária e saúde mental dentro dos campi da Universidade Federal do Paraná (UFPR), para dar mais espaço à geração de renda de trabalho de grupos dos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e de pessoas vulneráveis.

“Dentro desse grupo, a gente consegue fomentar e articular, trazer algumas oficinas para que eles consigam produzir artesanatos e levar para a feira junto com os empreendimentos”, contou Geison. 

Experiências de cooperação

Outra experiência apresentada na atividade foi a do projeto  “Ceará sem Fome”, programa permanente de combate à fome que leva alimentos à população mais vulnerável do estado e abrange mais de 43 mil famílias, por meio do trabalho em rede com cozinhas solidárias — o que promove a Economia Solidária em várias localidades e movimenta o comércio nos municípios — e do cartão do programa.

A experiência foi apresentada  por Pedro Ferreira de Oliveira Neto, secretário executivo de Fomento Produtivo e Agroecologia do Ceará e antigo membro da direção nacional do MST.

No programa, as famílias usam o cartão para comprar somente alimentos e com a preferência aos estabelecimentos que ofereçam produtos da agricultura familiar e pequenos comércios. Há também as Unidades Sociais Produtoras de Refeições (USPR): cozinhas que produzem e entregam, por cinco dias na semana, uma refeição para as pessoas acolhidas pelo programa.

A experiência da Rede Mandala no Paraná também fez parte da atividade. Rayane Costa, integrante da Rede, relatou ações e articulações da iniciativa que liga empreendimentos no campo e na cidade, para uma cooperação de produção, comercialização, logística, atuação política, formações e outras atividades na perspectiva da Economia Solidária.

“Apesar dessa diversidade de territórios, de trajetórias, de produções diferenciadas — isso pode em alguns momentos dificultar a visualização da rede como um todo — isso demonstra uma enorme riqueza da rede, dessa diversidade que no final possibilita o exercício de costurar, de trabalhar vários talentos em prol de um objetivo comum, que é o fortalecimento das relações entre campo e cidade”, explica Rayane.

Alguns dos produtos produzidos pelas iniciativas de economia solidária a Rede Mandala estão disponíveis na 20ª Jornada de Agroecologia. Eles podem ser adquiridos na Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular até o dia 26 de novembro. A atividade está sendo realizada em Curitiba, no Campus Rebouças da UFPR.

Fonte: Jornada de Agroecologia

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